sexta-feira, 2 de julho de 2010

outono

O outono

Nesses dias, tenho me encontrado em pleno outono. Eu sinto a troca das antigas folhas que cobriam os sentimentos escondidos cá dentro. Antigamente era mais fácil sublimar, mas no outono tudo fica desnudo, é um ciclo inevitável da vida jogar fora o que já deu o que tinha que dar....
Parece que esse outono vai dar o que falar. Eu tinha uma certeza de que ia encontrar um amor no verão passado, alegria mágica dos dias quentes foi embora e não aconteceu o amor. Ah...de novo ele, sempre o amor. O amor carece... Numa vida tão corrida, cheia de problemas, em meio à depressão que se instala em virtude das dificuldades que não consigo dar conta, amar me parece um lindo sonho antídoto ao tédio, ao caos. É isso me dou conta, nesse outono, que me transformei numa administradora bem sucedida do caos...
Briga com os filhos, batida de carro, traição de namorado, sexo sem amor, conta negativa no banco, trabalhos intermináveis, engarrafamento, choro, cansaço, dor nas costas em meio ao caos uma esperanças contida de amor. Talvez por isso você começa a sonhar com uma pontinha de céu na sua vida que pudesse balancear com afeto essa vida maluca.
Enganos. O amor precisa de espaço, de tempo, de suavidade, talvez por isso ele nunca aconteça, sei lá. Só sei que depois desse outono, nada será como antes, porque antes não percebia que esse pedaço de céu dentro da vida é um desejo que tudo, enfim, melhore: as brigas, o trabalho , a vida. O desejo de amar é também o desejo de viver bem, independente se seremos felizes para sempre ou não.

domingo, 16 de maio de 2010

às vezes

Às vezes , penso que te amo
Teus encantos e sinais
A saudade ...a falta que você faz.
Tua presença tão intensa
Me desvela, me desnuda
Como embriaguez tão profunda
Penso assim que te amo

Às vezes, também te renego
Tua indiferença, inconstância
A falta de sentido
Vício, choro, precipício...
Incoerente em minha entrega
Mesmo sendo tua
Nego-te ...
Feito vacina

Às vezes, eu te desejo
Quase sempre
Tão belo, louro, inquieto
Ereto, gostoso,
Chega e me alucina
Esqueço que te amo
Esqueço que te nego
E Sempre te quero

Às vezes, é pouco pra mim

Poema autobiográfico

Sabendo-se pequena, fez se grande.
Sabendo-se imperfeita, fez-se compreensiva,
Sabendo-se pobre, fez-se rica
Sabendo-se romântica, fez-se realista.

E de tanto lutar contra as intempéries da vida
Essa menina, fez-se mulher.
Hoje sou Patrícia.

domingo, 25 de abril de 2010

Todo homem tem uma mala de ferramentas

Não sou muito adepta de teorias biologizantes para tentar explicar as diferenças socioculturais entre os sexos. Mas depois de alguns anos militando no movimento feminista, entre pregos tortos e pneus nunca trocados, cheguei a uma certeza: “ todo homem tem uma mala de ferramentas”.

Estava chegando do trabalho, exausta quando acontece o momento fatídico de toda feminista, aquela situação constrangedora “meu pneu furou”. È certo que minhas amigas diriam “liga para o reboque”, mulher independente não cai do salto... não precisamos deles nem nessa hora...” Claro, poderia ter ligado, mas o cavalheiro do outro lado da rua foi mais rápido em me abordar do que o tempo que levei para encontrar o celular na bolsa e antes que eu ligasse, rapidamente se ofereceu para trocar o pneu de meu carro.

Sentimentos ufanistas a parte, eu aceitei, aliviada, confesso. E logo percebi o óbvio, eu não estava preparada para aquela situação. O cavalheiro me perguntou com a cara mais deslavada, parecia me afrontar “onde está a chave de rodas?” Bem, eu não esperava tamanho atrevimento e tentei manter a pose, mas o moço insistiu “você não tem chave de roda!” Nesse momento, eu precisei ser humilde e admitir minhas limitações mecânicas, elétricas e funilíricas...sei lá.

Já decepcionada comigo mesma, e um tanto desconcertada sem saber se entrava num curso rápido desses de mecânica, embora o problema fosse só um pneu furado ou se ligava mesmo para o reboque, tentando me consolar do inconsolável, o bondoso rapaz surge com a solução” vou pegar no meu carro uma chave ..pera aí. Perei. Num instante, eis que surge a minha frente uma mala de ferramentas dessas de três compartimentos com parafusos e chaves de todos os tamanhos e cores. E sem querer ser bisbilhoteira, comecei a imaginar aquele universo tão masculino entre porcas, parafusos, chaves...Cheguei a pensar que o rapaz fosse mecânico e “hum...será do tipo que coloca pregos na estrada e fica esperando a vítima passar?eu estaria caindo numa armadilha?” Nada disso. Mala de ferramentas é coisa da espécie macho mesmo.

Enquanto o homem trocava o pneu, me lembrei do meu advogado contando que seu casamento ia mal, quando um dia ele resolveu tomar uma atitude de homem e saiu consertando tudo em casa, depois que sua esposa jogou na sua cara “essa casa parece que não tem homem, é vaso entupido, bica vazando...” Ele sentiu uma humilhação profunda... Anos de estudo, dedicação... Não o habilitaram para consertar uma bica pingando? Não há casamento que resista a isso! Ele tomou coragem e assumiu seu papel de macho da casa... Está casado até hoje, ainda bem.

Meu pai também era assim, consertava tudo e até fazia pequenas adaptações com canos e torneiras, mamãe nunca teve do que se queixar...bem, saudosismos a parte, olhando para aquele homem,comecei a entender melhor o universo masculino, consertar uma bica, trocar um pneu faz parte de um tipo de exibicionismo do macho. Eles se sentem cavalheiros templários guerreando para acalmar princesas desesperadas e frágeis...Traz um tipo de satisfação para o homem saber que elas não podem tudo!!!haha E eu estou aqui e vou lembrá-la disso....

Gracinhas de lado a parte, ofereci pelo serviço uma gorjeta, mas educadamente o homem recusou e ainda me fez a corte. Nada é gratuito. O fato é que todo homem tem uma mala de ferramentas que possa socorrer uma mulher! Quanto maior ela for, mais revela a sua suscetibilidade para impressioná-la, praticamente uma arte de seduzir uma dama, e também de entender o que vai no oculto da alma de uma feminista.